segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O estranho PIB e a construção

A recente divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) trimestral da construção civil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) causou estranhamento naqueles que vêm acompanhando a imprensa divulgar, quase que diariamente, que o setor anda a mil. Conforme o Instituto, a construção registrou queda de 8,4% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2008, acumulando no ano uma retração de 9,1% em suas atividades. O problema é que a maioria dos brasileiros é leiga em relação à metodologia que o IBGE usa para calcular seus dados. É aí que está o xis da questão.

As estimativas do PIB trimestral do setor são realizadas com base na produção de materiais de construção, que, de fato, apresentou queda bastante acentuada. De janeiro a outubro deste ano, a produção desses insumos, segundo a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, sofreu redução de 9,3%. Devido à crise econômica, essa produção não acompanhou o desempenho das construtoras. O comércio e as empresas de construção, de uma forma geral, tinham estoques elevados. Afinal, o mercado estava em expansão. A instabilidade trouxe uma forte queda nas vendas das indústrias e na produção de insumos. Além dos estoques elevados, muitas famílias adiaram ou até mesmo cancelaram seus projetos de construir e reformar.

Os números do PIB trimestral, portanto, não estão retratando a recuperação das atividades vivenciadas pelas construtoras este ano. Quando o IBGE calcular as outras variáveis - o valor adicionado pelas empresas e o consumo de materiais pelas famílias, o desempenho poderá ser outro, inclusive muito mais expressivo.

Nesse contexto, deve-se destacar o aumento de 10,9% no estoque de trabalhadores formais no setor no ano, significando a geração de novas vagas e isso, por si só, já é um reflexo de desempenho de atividade. O consumo de cimento registrou retração de 0,72% nos primeiros nove meses deste ano em relação ao mesmo período de 2008, o que pode indicar que o ritmo das obras manteve-se relativamente estável.

Mas, mesmo com essa recuperação observada no transcorrer do ano, o desempenho final da construção este ano ficará longe da média dos últimos cinco anos, quando cresceu a uma taxa média de 5,20%. De acordo com estimativas da FGV Projetos, a expansão setorial deste ano será de cerca de 1%.

Hoje, o cenário da construção é de um processo de recuperação e fortalecimento de suas atividades. Alguns segmentos conseguiram melhor desempenho: o mercado imobiliário da capital mineira, por exemplo, superou o mau tempo da economia e alcançou resultados expressivos. As vendas de apartamentos em Belo Horizonte cresceram acima de 30%.

Isso mostra que as nuvens cinzentas foram se dissipando no transcorrer do ano. O programa Minha casa, minha vida certamente foi uma grande injeção de ânimo para o setor. Apesar de direcionado para segmentos específicos, trouxe maior confiança ao mercado. A redução do IPI para alguns materiais de construção também pode ter contribuído para incrementar as atividades da cadeia produtiva.

Assim, as perspectivas para os próximos meses são bastante positivas. Nesse contexto, é importante destacar o papel da construção no processo de recuperação das atividades econômicas do país no momento pós-crise internacional. Vale lembrar que a sua cadeia produtiva, em nível nacional, representa 9,2% do PIB e é responsável pela ocupação de mais de 10 milhões de pessoas. Sem dúvida, a construção ajudou a economia nacional a voltar a caminhar, mesmo que a passos lentos.

A geração de vagas formais, os sucessivos aumentos da produção industrial, a alta nas vendas do comércio varejista, a volta da confiança de consumidores e empresários e o incremento do crédito fortalecem as esperanças e geram novo alento, dando um novo horizonte para as empresas.

Outro ponto a ser destacado: a realização da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas 2016 apresentam-se como janelas de oportunidades não só para a construção, mas para o Brasil. Afinal, a nossa carência de infraestrutura é evidente e com esses eventos poderá melhorar. Assim, é importante observar que a estrada que se aproxima não é sombria e que a construção civil será uma forte luz para iluminá-la.

* Diretor de Comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG)

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